CELA DO BISPO DO ROSÁRIO NA COLONIA JULIANO MOREIRA/BLOCO 10 - ULISSES VIANA, DEBAIXO DO ESMALTE GROSSO DOS ANOS, DESENHOS E ANOTAÇÕES FORAM DESCOBERTOS.
Um dos artistas residentes que já passou pelo museu bispo do rosário fez uma intervenção com lambes nas paredes de uma solitária do pavilhão 10. Cela que já foi usada para encarcerar bispo e sua obra. A direção da instituição se manifestou contra os lambes e decidiu removê-los. O que eles não previram era que, ao arrancar o trabalho do residente, camadas de tinta viriam junto. Debaixo do esmalte grosso do anos, desenhos e anotações foram descobertos. Difícil dizer se eram de bispo ou de um dos seus companheiros de cárcere. O fato é que o tema náutico, tão caro ao ex-marinheiro e artista sergipano, está lá. Na visita que fiz ao pavilhão hoje à tarde, vi um navio naufragado na tinta do apagamento. Vi Palavras à deriva sobre um fundo azul aguado. Cor preferida de bispo. Alguns dirão que foi uma arqueologia acidental. Fruto de mera contingência. Eu, no fundo, gosto de pensar que o artista residente sabia da presença da embarcação e dos escritos. Seu sonar havia lhe dito sobre os desenhos e as frases escondidas. Submersas. Não fosse seu lambe - e os desdobramentos por ele disparados - o navio e as escrituras ficariam, para sempre, nas profundezas sem fim do esquecimento.- Davi Moreira
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Foto parcial da parede descamada do pavilhão 10, onde o "lambe" foi pregado e depois removido, anotações foram descobertos
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Foto parcial da parede descamada do pavilhão 10, onde o "lambe" foi pregado e depois removido, desenho náutico foi descoberto
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Foto total da parede descamada do pavilhão 10, onde o "lambe" foi pregado e depois removido
Na parede de uma das celas há uma estranha marca retangular descamada, a superfície revela as cores com as quais o edifício havia sido pintado anteriormente. Alguns anos atrás, um participante do programa de residência artística do museu fizera uma intervenção não autorizada. Pregara um lambe que, ao ser retirado, levou consigo parte da pintura do cubículo de isolamento. O que não se esperava é que, debaixo das camadas de tinta, o desenho de um navio fosse encontrado. A recorrência do tema náutico na coleção rosariana, e o fato dele ter ocupado todas aquelas celas, fez com que se acreditasse que a gravura era obra de Bispo.
Quantos outras embarcações não permaneceriam naufragadas sob o fino
revestimento esmaltado das paredes do pavilhão 10. Não fosse a indisciplina do artista
residente, mais uma dela permaneceria desconhecida.
DAVI MOREIRA LOPES
GARGANTA GRITA: ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO E O SILENCIAMENTO
PRODUZIDO PELOS REGIMES DE AUTORIZAÇÃO DISCURSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade
Federal do Ceará
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BANHEIRO DA CELA DO BISPO DO ROSÁRIO
FOTÓGRAFO: Arlem Araujo
DATA: 30-05-2015.
ACERVO: Flink
FOTOGRAFIA: Vídeo
DATA; 03 08 2023
ACERVO: Itaú Cultura
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